02/11/2004

> > (Carteira Nacional de Habilitação)
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> > 05 de Janeiro
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> > Passei no exame de habilitação! Posso agora dirigir o meu
> > próprio automóvel, sem ter de ouvir as recomendações dos
> > instrutores, sempre dizendo:
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> > "Por aí é proibido!", "Estamos na contra-mão!", "Olha a
> > velhinha! Freia! Freia!", e outras coisas do gênero.
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> > Nem sei como agüentei estes últimos dois anos e meio.
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> > 08 de Janeiro
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> > A Auto-Escola fez-me uma festa de despedida. Os instrutores
> > nem sequer deram aulas. Um deles disse que ia à missa,
> > julgo que vi outro com lágrimas nos olhos, e todos disseram
> > que iam embebedar-se, para comemorar. Achei simpática a
> > despedida, mas penso que a minha carta não merecia tal
> > exagero.
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> > 12 de Janeiro
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> > Comprei um carro, e infelizmente tive que deixa-lo na
> > concessionária, para substituir o pára-choque traseiro,
> > pois, quando tentei sair, engatei a marcha-a-ré ao invés da
> > primeira. Deve ser falta de prática. Faz uma semana que não
> > dirijo!
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> > 14 de Janeiro
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> > Já tenho o carro. Fiquei tão feliz ao sair da concessionária
> > que resolvi dar um passeio. Parece que muitos outros tiveram
> > a mesma idéia, pois fui seguida por inúmeros automóveis,
> > todos buzinando, como num casamento. Para não parecer
> > antipática, entrei na brincadeira e reduzi a velocidade de 10
> > para 5 km por hora. Os outros gostaram e buzinaram ainda
> > mais.
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> > 22 de Janeiro
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> > Os meus vizinhos são impecáveis. Colocaram pôsteres
> > avisando, em grandes letras: "ATENÇÃO ÀS MANOBRAS", marcaram
> > com tinta branca um lugar bem espaçoso para eu estacionar e
> > proibiram os filhos de sair à rua enquanto durassem as
> > manobras. Penso que é tudo para não me perturbarem. Ainda
> > tem gente boa neste mundo...
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> > 31 de Janeiro
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> > Os outros motoristas estão sempre buzinando e acenando para
> > mim. Acho isso simpático, embora um tanto quanto perigoso. É
> > que um deles apontou para o céu com o dedo espetado. Quando
> > procurei ver o que apontava, quase bati o carro. Ainda bem
> > que eu ia à minha velocidade de cruzeiro, de 10 km por hora.
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> > 10 de Fevereiro
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> > Os outros motoristas têm hábitos estranhos. Além de acenarem
> > muito, estão sempre gritando. Não os ouço, porque mantenho
> > os vidros fechados, mas acho que eles querem me dar
> > informações. Digo isto porque acho que percebi um deles
> > dizendo "Vai pra casa". Acho isso espantoso. Não sei como
> > ele adivinhou para onde eu ia. De qualquer modo, quando eu
> > descobrir onde fica o botão que abre os vidros, vou tirar
> > muitas dúvidas.
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> > 19 de Fevereiro
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> > A cidade é muito mal-iluminada. Fiz hoje meu primeiro
> > passeio noturno e tive de andar sempre com o farol alto
> > aceso, para enxergar convenientemente. Todos os motoristas
> > com quem cruzei pareciam concordar comigo, pois também
> > ligaram o farol alto, e alguns chegaram mesmo a acender
> > outros faróis que tinham. Só não percebi a razão das
> > buzinadas. Talvez para espantar algum cão ou gato. Sei lá.
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> > 26 de Fevereiro
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> > Hoje tive um acidente. Entrei numa rotatória e, como havia
> > muitos automóveis (não quero exagerar, mas deviam ser, no
> > mínimo, uns quatros, não consegui sair. Fui dando voltas
> > bem juntinhas ao centro, à espera de uma oportunidade, de
> > tal forma que acabei por ficar tonta e fui chocar com o
> > monumento do centro da rotatória. Acho que deviam limitar a
> > circulação nas rotatórias a um carro de cada vez..
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> > 03 de Março
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> > Estou em maré de azar. Fui buscar o carro na oficina e, logo
> > na saída, troquei os pés, acelerando fundo em vez de
> > frear. Abalroei um carro que passava, amassando-lhe todo o
> > lado direito. O motorista era, por coincidência, o inspetor
> > que me fez o exame de habilitação. Um bom homem, sem
> > dúvida. Insisti em
> >
> > dizer-lhe que a culpa era minha, mas ele, educadamente, não
> > parava de repetir: "Que Deus me perdoe! Que Deus me
> > perdoe!".

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